Por: Gabriel Marazzi

Camaro completou 40 anos desde que foi lançado para enfrentar o Mustang, e vai voltar a ser produzido em breve

Parece que foi outro dia, mas o Camaro já completou 40 anos. Na primeira metade dos anos 60, a General Motors tentava se segurar no segmento dos automóveis compactos, contra o fenômeno Ford Mustang, com o seu Chevrolet Corvair. Apesar de seu projeto moderno e jovial, o Corvair tinha motor traseiro "a ar" e viu a sua reputação completamente desacreditada graças à publicação de um trabalho do advogado Ralph Nader contra a segurança. Mesmo assim, o Corvair era um bom esportivo, mas não o suficiente para brigar com o novo rival que, além de bonito, era barato. A resposta da General Motors veio em 1966, com o grande lançamento para o ano seguinte, do Chevrolet Camaro.


A primeira geração do Chevrolet Camaro foi até 1969, sendo vendida até o começo de 1970. Tratava-se de um cupê compacto -para os padrões norte-americanos– de linhas muito parecidas com as dos primeiros Ford Mustang. Como o Ford, contava também com uma versão conversível. Planejado para receber várias configurações de motor, as versões mais desejadas, na época –e principalmente nos dias atuais– tinham motor V8. Os Camaro de seis cilindros em linha, no entanto, também eram muito procurados, principalmente por serem mais baratos, por sua maior economia e simplicidade de funcionamento. Hoje, um Camaro com motor de seis cilindros é objeto raro e vale até mais que um V8.

Não era um carro familiar, mas devido à sua configuração 2+2, na qual se considera dois adultos confortavelmente na frente e duas crianças nos apertados bancos traseiros, o Camaro pôde conquistar uma parcela adicional de motoristas, que eventualmente se deslocavam com sua família.
Nessa ocasião, a Chevrolet contava ainda com cinco outras linhas de automóveis, cada uma com sua particularidade: o Chevelle, com seus motores "big block" de grande cilindrada; o Chevy II, compacto; o Corvette, esportivo de dois lugares; o Impala, familiar de enormes dimensões (e suas variações, como o Bel Air e o Biscayne), além do próprio Corvair. Mas nenhum tinha o apelo jovem do Camaro.
As versões mais comportadas do Camaro tinham a grade dianteira convencional, mesmo equipado com o enorme motor "big block" de 6.500 cm3 e 375 cv de potência máxima. Mas a maior estrela da linha era o SS-350, equipado com o V8 "small block" de 5.730 cm3 e 295 cv, justamente por ter visual diferenciado. Sua grade frontal tinha duas coberturas retráteis que escondiam os faróis, abrindo-se apenas quando estes eram ligados.
Os outros motores disponíveis eram os seis cilindros de 3.770 cm3 e 4.100 cm3 (respectivamente 140 e 155 cv), e os V8 de 4.950 cm3 e 5.360 cm3, de 290 e 275 cv de potência. Foi nesse período que surgiu a talvez mais importante versão do Camaro, o Z28. Além de alguns equipamentos específicos, seu motor era um 327 com menor curso dos pistões, para a cilindrada poder ser reduzida para 302 polegadas cúbicas, ou 5.000 cm3. Isso para poder ser homologado em uma categoria de competição cujo regulamento limitava essa cilindrada.
Uma curiosidade, no lançamento do Chevrolet Camaro, foi o teste feito pelo piloto ítalo-americano Mario Andretti: decepcionou-se, ao dar a primeira volta no circuito, mas resolveu colocar 10 libras a mais de pressão nos pneus e descobriu um novo carro, ágil e "na mão". Logicamente equipado com câmbio manual de quatro marchas, pois a transmissão automática Powerglide de duas velocidades era um terror para esse tipo de uso!
O Camaro de 1968 pouco mudou em relação à primeira versão, mas no ano seguinte o carro ganhou aparência mais agressiva, graças a uma nova grade frontal, justamente aquela que inspirou o novo Camaro, apresentado recentemente como carro-conceito e em vias de ser lançado. Em 1969 o motor 396 deu lugar a outro ainda maior, o 427 (7.000 cm3), com potência de 425 cv e o brutal torque de 63,5 kgfm.

SEGUNDA GERAÇÃO
A segunda geração do Chevrolet Camaro foi apresentada no início de 1970, e marcou a maior mudança de toda a saga do modelo. A carroceria agora era a de um cupê esportivo, e por isso a versão conversível deixou de ser oferecida. Uma das maiores diferenças em relação à carroceria anterior foi a eliminação das janelas laterais traseiras, uma vez que as portas dianteiras terminavam na coluna principal. Na frente, as coberturas móveis dos faróis na versão anterior também foram abolidas, e era possível distinguir as versões SS e RS pelo pára-choque dianteiro: no primeiro ele era inteiriço, e no outro havia duas metades, ressaltando a grande grade no centro do carro.


Nesse ano o Camaro apresentava uma das configurações mais interessantes da versão esportiva Z-28, que agora tinha motor 350 "small block" com tuchos mecânicos e escapamento dimensionado, oferecendo a potência máxima de 360 cv. Havia ainda o "big block" 396, com potência de 375 cv.


Em 1973 ocorreram pequenas mudanças estéticas na linha Camaro, decretando o fim da versão SS, que foi substituída pelo Type LT (Luxury Touring). Era um Camaro mais pacato, com os motores menos potentes da linha, privilegiando o conforto sobre a esportividade. No ano seguinte, a obrigatoriedade da adoção de pára-choques retráteis, que deveriam absorver impactos até 5 milhas por hora sem se deformar, tornou o Camaro muito menos atraente, ao mesmo tempo em que as limitações impostas pela crise do petróleo o deixaram ainda menos esportivo.
Coincidentemente, foi a época de ouro do modelo no Brasil, que virou febre entre os importados, devido ao seu baixo preço em relação aos automóveis europeus. Em 1976, o Brasil fecharia as importações de automóveis, de forma que o Type LT ficou marcado como um dos últimos importados a entrarem no país em grande escala.

TERCEIRA GERAÇÃO
Apesar de ter recebido algumas transformações durante os anos 70, foi só em 1982 que o Chevrolet Camaro se tornou um automóvel totalmente novo. A terceira geração chegou com uma nova carroceria, mas que mantinha o estilo de esportivo europeu do cupê anterior. A maior novidade é que ele era um hatch, cuja tampa do porta-malas abria integralmente com o vidro traseiro, dando acesso ao interior do veículo.

Mecanicamente, as maiores alterações em relação à segunda geração eram a adoção de molas helicoidais na suspensão traseira e a eliminação do sub-chassis, passando a suspensão dianteira a ser do tipo McPherson.
Quanto aos motores, entrava em cena um propulsor que os amantes do modelo preferem até esquecer: o quatro cilindros em linha, cabeçote de ferro fundido e apenas 2.500 cm3 de cilindrada (151 polegadas cúbicas), oferecendo vergonhosos 90 cv ao clássico esportivo. Sem comentários...
Mas havia outras opções: o seis cilindros era agora um 2.8V6 de 112 cv e o V8 de 165 cv tinha a opção de injeção eletrônica monoponto. Os baixos valores de potência eram conseqüência da política de economia de combustível e proteção ambiental, ainda no início naqueles tempos.
Surgia também a versão esportiva IROC-Z, criada para participar do "Internacional Race Of Champions", um importante campeonato norte-americano. Em 1987 essa versão já tinha um V8 de 225 cv. A terceira geração do Camaro foi produzida até 1992.

QUARTA GERAÇÃO
Em sua última geração comercial (por enquanto), iniciada em 1993, o Chevrolet Camaro ficou muito parecido com seu irmão mais próximo, o Chevrolet Corvette. Na versão mais potente, inclusive, utilizou o mesmo motor do lendário esportivo, o 5.7V8 LT-1, mas com menos potência, 275 cv. E o menor motor disponível, desta vez, era um competente V6 de 200 cv de potência.


Sua carroceria ficou bem mais moderna do que o estilo dos anos 80, com linhas arredondadas e o invariável teto preto. No seu segundo ano de produção, volta a ser fabricado o Camaro conversível.
Até 2002, quando o Camaro comemorou seu 35o aniversário, a última geração sofreu poucas alterações, a maioria o atualizando em termos de tecnologia eletrônica. A edição comemorativa de aniversário, que também marcou sua saída do mercado depois de quase cinco milhões de unidades produzidas, tinha motor 350 V8 de 325 cv e câmbio de seis velocidades, com a carroceria decorada com faixas. Era o fim de um ícone da indústria automotiva, mas que voltará muito em breve.


QUINTA GERAÇÃO
Seguindo o mesmo saudosismo que ressuscitou vários automóveis dos anos 40 e 50, entre eles o maior rival do Chevrolet Camaro, o Ford Mustang, a General Motors apresentou uma versão conceitual do Camaro no Salão de Detroit de 2006, modelo inclusive que também foi mostrado no Salão Internacional de São Paulo, nesse mesmo ano. E divulgou que pretende tornar o Camaro novamente um modelo de série –baseado nesse concept-car– a partir de 2009. Tanto que também já apresentou a versão conversível do modelo, que deverá ter o mesmo estilo agressivo do Camaro de 1969, considerado pela maioria dos amantes desse carro como um dos mais bonitos de toda a sua história.


Com pintura que remete aos "muscle cars" dos anos 60, um enorme motor V8 de seis litros e mais de 400 cv de potência, o próximo Chevrolet Camaro zero quilômetro que poderemos comprar um uma loja promete ser pura adrenalina, exibindo seus largos pneus de 305 mm de largura e rodas de 22 polegadas de diâmetro.
Uma legião de fãs, de todas as idades, certamente aguarda ansiosa pela volta do Chevrolet Camaro. Mesmo que tenha que esperar, ainda, um ano inteiro